sábado, 21 de julho de 2012

PROJETO COMUNITÁRIO - TELECENTROS.BR


HISTÓRIAS CONTADAS EM MUSICAS 


Payada
Jayme Caetano Braun (1924-1999)

Para ouvir: http://letras.terra.com.br/jayme-caetano-braun/1258282/ 

(…)

Primeiro era o campo aberto, descampado, sem divisas...
Com fronteiras imprecisas, mundo sem longe nem perto..
Eu era o índio liberto, barbaresco e peleador
Rei de mim mesmo, senhor da natureza selvagem,
A religião da coragem e o sol de bronze na cor

Um dia veio o jesuíta a este rincão do planeta
Vestindo a sotaina preta na catequese bendita
Foi mais do que uma visita à minha pampa morena
Bombeei por trás da melena, olhos nos olhos o irmão,
E gravei no coração a santa cruz de Lorena!

Mais tarde veio mais gente às minhas terras campeiras...
A falange das bandeiras, impiedosa e inclemente...
Me levantei de repente e as tribos se levantaram...
As várzeas se ensangüentaram, elas que eram verdejantes,
Mas eu venci os bandeirantes, que nunca mais retornaram!

E depois vieram os lusos, os negros, os castelhanos,
E nos pagos campejanos, novas normas, novos usos...
As violências e os abusos da Ibéria, Castela e Lácio
Que rasgaram o prefácio e mataram as plegárias
E as ânsias comunitárias dos irmãos de Santo Inácio.

Não pude deter a vaga de Andonega e Barbacena...
Se a História não os condena, a mancha nunca se apaga!
A opressão jamais indaga na sua ambição mesquinha,
Era meu tudo o que tinha, era meu tudo o que havia,
E eu morri porque dizia que aquela terra era minha!

Mas o eterno não morre, porque permaneço vivo...
No lampejo primitivo de cada fato que ocorre
O meu sangue rubro corre na velha raça gaudéria,
Corcoveando em cada artéria pela miscigenação
Na bárbara transfusão com os andarengos da Ibéria...

Fui sempre aquilo que sou, sou sempre aquilo que fui,
Porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou...
Sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu,
Sou o gaúcho que cresceu junto aos fortins de combate
E já estava tomando mate quando a pátria amanheceu!!! (…)

Negro Drama
Mano Brown (1970)


Uma negra,
E uma criança nos braços,
Solitária na floresta,
De concreto e aço,

Veja,
Olha outra vez,
O rosto na multidão,
A multidão é um monstro,
Sem rosto e coração,

Ei, São Paulo,
Terra de arranha-céu,
A garoa rasga a carne,
É a torre de babel,

Famíla brasileira,
Dois contra o mundo,
Mãe solteira,
De um promissor vagabundo

Luz, câmera e ação,
Gravando a cena vai,
Um bastardo,
Mais um filho pardo, sem pai,

Ei, senhor de engenho,
Eu sei bem quem você é,
Sozinho cê num guenta,
Sozinho, cê num entra a pé,

Cê disse que era bom,
E a favela ouviu, lá
Também tem
Whisky, Red Bull,
Tênis Nike e fuzil,

Admito,
Seus carro é bonito,
É, eu não sei fazê,
Internet, video-cassete,
Os carro loco,

Atrasado eu tô um pouco sim,
Tô, eu acho,

Só que tem que,
Seu jogo é sujo,
E eu não me encaixo,
Eu sô problema de montão,
De carnaval a carnaval,
Eu vim da selva,
Sou leão,
Sou demais pro seu quintal,

Problema com escola,
Eu tenho mil,
Mil fita,
Inacreditável, mas seu filho me imita,
No meio de vocês,
Ele é o mais esperto,
Ginga e fala gíria,
Gíria não dialeto,

Esse não é mais seu,
Ó, subiu,
Entrei pelo seu rádio,
Tomei, cê nem viu,
Nóis é isso ou aquilo,

O quê?, cê não dizia,
Seu filho quer ser preto,
Ha, que ironia (…)

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